Projetos de Anos Anteriores: 2001 - 2010

2001

Missão Terra – O Resgate

 

Esse é o nome que demos ao Projeto Institucional para 2001. O nome, sugestivo para as crianças como uma aventura, vem se conectar com as muitas brincadeiras dos pais em relação ao filme “2001 Uma Odisséia no Espaço”, na hora de sugerirem o novo tema para o projeto. Apenas redirecionamos o olhar. A nossa odisséia será bem terrena, atendendo as preocupações, também manifestadas por vocês, com a nossa gente, com o nosso planeta. Algumas viagens intergalácticas serão bem vindas, mas sempre com destino à Terra.

 

Buscamos subsídios e inspiração na Agenda 21 e no relatório Nosso Futuro Comum, criados pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU, que divulgam o compromisso e a idéia de “Atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de gerações futuras de atender suas necessidades…”.

 

Queremos conhecer melhor para aprender a amar e preservar a vida em todas as suas manifestações. Certamente o tema do Projeto Institucional será um largo território de pesquisa e um grande manancial de questões a serem respondidas por todos nós.

 

Estamos aqui estudando muito, pensando nas possibilidades de um trabalho cheio de vivências enriquecedoras para crianças e professores. Se você, aí de casa, quiser participar, será um prazer poder contar com sua parceria. Mande idéias e materiais! Estamos no aguardo.

 

REFORMULANDO

 

Na última versão de nossa proposta pedagógica tentamos comunicar as alterações para 2001, mas não tivemos muito espaço para explicá-las e justificá-las. Mudanças nem sempre são aceitas com facilidade, muito menos quando achamos que tudo está funcionando bem. É aquela velha história de que em time que está ganhando não se mexe. Mas o ditado popular não se aplica à nossa escola. Não queremos ser uma escola pronta, acabada. Um dos orgulhos que temos é ver que a Sá Pereira não parou de se metamorfosear. Para nós é sinal de vida! De energia que se renova. São mais de cinqüenta anos de construção coletiva. Temos, sim, alguns alicerces ideológicos e éticos que fazem com que a gente entenda educação como um ato político, como um caminho para a inserção social do indivíduo, um compromisso constante de contribuir para a formação de uma sociedade mais justa e igualitária. Para isso tentamos, de forma séria e ao mesmo tempo carinhosa, achar caminhos. Em muitos momentos encontramos encruzilhadas e, com muito estudo, pesquisa, trocas com profissionais das diferentes áreas que permeiam esse universo escolar, com a escuta atenta dos desejos e, também, do bom senso dos pais, que continuam acreditando no nosso trabalho, conseguimos dar a volta por cima.

 

A Sá Pereira é, assim, um eterno recomeçar. Um caminhar que acredita na avaliação processual para reencaminhar suas intenções. Porém, avaliar pressupõe parâmetros que vamos buscar na observação cotidiana de nossa prática pedagógica, na vivência cidadã do espaço e do tempo em que vivemos e no compromisso de atualização teórica que nunca abandonamos.

 

2002

Nós, tão iguais, tão diferentes

 

Assim traduzimos os desejos e expectativas da família Sá Pereira em relação ao Projeto Institucional de 2002. Ao tratarmos esse tema como prioridade nas discussões, estudos e pesquisas escolares, acreditamos que estaremos contribuindo para a formação de cidadãos mais tolerantes, que reconheçam e aprendam a respeitar as diferentes sociedades e culturas que formam esse mundo plural em que vivemos. Aprendendo a respeitar as diferenças nossas crianças estarão mais fortalecidos para discernir qualquer tipo de discriminação, tanto no espaço escolar como nos outros espaços de relação familiar ou social onde pretendemos alcançar um ideal democrático.

 

Educar para tolerância significa tentar formar uma cultura de paz. Experimentar viver em paz consigo, com todos com que nos relacionamos no dia-a-dia e mesmo com os outros seres humanos que, às vezes, nos parecem tão distantes, significa lutar por tempos mais justos. Educar para a tolerância será nosso desafio maior este ano. É preciso que se entenda tolerância não como um eterno abrir mão, ceder, fazer sempre concessões aos desejos dos outros, elogio a submissão, mas como o exercício do diálogo, da aprendizagem do acordo, do respeito, da aceitação e do apreço à diversidade humana e cultural.

 

Buscaremos ensinar aos nossos alunos seus direitos, deveres e liberdades, incentivando-lhes o respeito aos direitos, deveres e liberdades dos outros, entendendo essa relação de reciprocidade e combatendo a intolerância que sempre acarretam a exclusão e a violência, tão presentes e destrutivas no mundo de hoje. Tentaremos redescobrir o significado de palavras como pluralidade, diversidade, palavras que tiveram seus sentidos ampliados nesses últimos tempos. Tempos de globalização, de pasteurização das culturas e de suas ex- pressões que por mecanismos antagônicos e simultâneos provocam também a valorização do particular, do singular, do único.

 

Garantir um espaço onde se viva o respeito mútuo, a justiça baseada na eqüidade e a solidariedade é nossa meta. Queremos valorizar o diálogo entre o singular e o plural, o objetivo e o subjetivo, entre as diferentes culturas, entre diferentes grupos sociais, entre diferentes pessoas, compreendendo-o como ferramenta poderosa para assegurar a paz e a dignidade de todos os seres humanos.

 

“Se a democracia vem dos gregos, o cristianismo, dos judeus e a técnica de meditação, do Oriente…

Se as cifras que somamos são árabes, as letras que escrevemos, latinas e a imprescindível roda é chinesa…

Se a Ásia ofereceu o arroz, os países mediterrâneos, o trigo e a América, o milho…

Se muitos ritmos que dançamos são africanos, a não-violência mais inspiradora é indiana e a universal canção “Noite Feliz” é germânica…

Se a raça humana é de todos/as humanos/as desta terra…

por que não lutar para que todas as culturas dialoguem e colaborem na construção de um mundo pleno de justiça e de paz?”

 

(da agenda-almanaque-anuário latino americano 2002)



2003

Abracadabra, a magia da comunicação

 

Foi uma tarefa difícil identificar nossas intenções e batizar o Projeto Institucional para 2003. As sugestões que colhemos nos questionários enviados às famílias apontavam para muitas direções. Precisávamos chegar a um tema que pudesse incluir o maior número de idéias, respeitando as características fundamentais de um bom projeto. Muitos pais indicaram a continuação de “Nós, tão iguais tão diferentes” desenvolvido em 2002. Temos certeza que não esgotamos as possibilidades de trabalho dentro desse tema e sabemos que suas idéias centrais estarão sempre presentes em qualquer escolha futura que venhamos a fazer. Mas trazer algo novo para um novo ano, é fundamental para as crianças e até mesmo para nós, professores, que nos animamos diante do desconhecido que nos impulsiona para a criação e a descoberta junto aos nossos alunos. Outra vertente apontada foi o momento político brasileiro, sobre o qual não há dúvida da sua importância, mas que nos ocupou bastante no ano que passou, com mobilizações em torno das eleições. Precisávamos de algo que não tivesse sido experimentado anteriormente. Nos fixamos, então, nas sugestões que nos levavam às artes, à comunicação humana, às novas tecnologias, à valorização do potencial de criação e diálogo humanos como alternativa real de mudança, de sonho para um mundo novo, mais justo e digno para todos.

 

Será essa nossa jornada para 2003: conhecer a história e os processos de criação, imaginação e comunicação humanos. Buscar subsídios para reconhecer, como sugere o filósofo Pierre Lévy, que “somente a linguagem nos permite estabelecer diálogo com outras culturas e nos fazer perceber que somos vizinhos. Sem a linguagem não poderíamos criar e disseminar religiões que nos ensinam a amar esses vizinhos como a nós mesmos. Então os elementos que realmente fazem diferença nas relações humanas são a linguagem, o diálogo e o amor. As tecnologias de comunicação apenas ampliam os poderes da linguagem. E essa mesma tecnologia nos faz perceber que somos mais e mais interdependentes a cada dia”. E, ao mesmo tempo, criar reflexões e recursos, através de estudos e pesquisas, para que possamos pensar e tentar entender nosso mundo tão cheio de mensagens auditivas, verbais, visuais, gestuais – reais ou virtuais – sem cair tão facilmente em armadilhas como a citada por Muniz Sodré: “Do fascínio centralizado na atividade da mídia e nas proezas da computação pode decorrer uma prática ideológica que atribui à inovação tecnológica em si mesma um poder mágico de solução dos problemas, independente das condições sociais e humanas”.

 

Esperamos poder fomentar, através de nossos estudos, não só o conhecimento das características e a valorização da comunicação humana, mas também provocar transformações nas referências simbólicas que tanto influenciam e formam a consciência política e moral de nossas crianças.

 

É um desafio e tanto, mas sabemos que teremos vocês, pais, como grandes parceiros.

 

2004

Catando os sonhos no velho e no novo mundo

 

Como surgiu o mundo e a humanidade? Quem são nossos ancestrais? Quem inventou o tempo? Quem fez o dia e a noite? De onde vem o vento? Como nasceram o sol, a lua e as estrelas? O que é o poder? Por que existe a guerra? De onde vem o frio? Quem nos ensinou a falar?

 

Existem muitas maneiras de responder a essas perguntas que povoam nossa cabeça, que mexem com a nossa imaginação, gerando curiosidade e diversas emoções.

 

A ciência, que durante longo tempo procurou estabelecer verdades absolutas, busca hoje a construção do conhecimento científico dentro de parâmetros provisórios, sabendo que suas teorias são hipóteses que vão se sucedendo umas às outras, ora completando ora reformulando completamente suas explicações do mundo.

 

Formas mais antigas de conhecimento vêm sendo reconhecidas e revalorizadas. Todos descendemos de civilizações constituídas por uma história, mas, também, por uma memória marcada por lendas e mitos. Narrativas que falam da origem do universo, da humanidade, que tentam explicar os fenômenos da natureza, as diversas formas como grupos e coletividades puderam se organizar e se expandir, que traduzem os sonhos, as fantasias, o imaginário, os desejos.

 

Muitos desdenham da dimensão mitológica, não reconhecendo a importância de seus significados simbólicos, considerando-a como “histórias da Carochinha”. Ao contrário desses preconceitos, podemos considerar os mitos e as lendas como formas de buscar respostas sobre quem somos, de onde viemos, e para onde vamos. Podem ampliar nossa compreensão do mundo e, principalmente, de nós mesmos, desvelando novos sentidos sobre nossa passagem pela vida, redimensionando a importância de nossa existência.

 

Este ano será esse nosso ponto de partida. Os mitos e as lendas foram escolhidos para deflagrar o movimento de busca de novos conhecimentos, para despertar o interesse por diferentes pesquisas que cada turma desenvolverá, atendendo às inúmeras sugestões enviadas pelos pais através dos questionários de avaliação 2003 e discutidas nas reuniões da Educação Infantil – a brincadeira, o jogo, os esportes, as Olimpíadas, a saúde do corpo, do planeta, a preservação da natureza, o respeito às diferenças humanas etc. Resgatando lendas e mitos de antigas civilizações, como garimpeiros que procuram pedras preciosas, conhecendo os que compõem o nosso próprio imaginário miscigenado por diferentes influências que constituíram nossa memória cultural e, ao mesmo tempo, criando novos sonhos, utopias e explicações para um futuro melhor estaremos à procura de descobertas que possam trazer respostas para as curiosidades que as crianças manifestam sobre a vida e seus mistérios.

 

2005

Vamos Mudar o Rio

 

Em 1990 trabalhamos o Rio de Janeiro como Projeto Institucional. A festa de fim de ano, no Teatro da UERJ, teve como trilha sonora as músicas de Ana Maria sobre a Cidade. Ana Maria, para quem não sabe, era irmã de Etê e Cecília, na época diretora da Escola. O CD, que estamos distribuindo para todos os nossos alunos, foi publicado em 1998, quando a Sá Pereira fez 50 anos.

 

Assim, o sonho de mudar o Rio se junta às lembranças de nossa escola e reeditar a Cidade como Projeto Institucional nos leva inevitavelmente à sua história.

 

Queremos buscar nas lembranças dessa antiga cidade, sem deixar de levar em conta o que hoje nos aflige, as luzes para um futuro melhor.

 

Estamos nos propondo a revisitar o lugar em que vivemos com olhos apaixonados de alegria e de tristeza, de orgulho e de vergonha, de apreensão e, principalmente de esperança.

 

Devemos percorrer a história do Rio desde a sua fundação, tentando conhecer as contribuições das pessoas que aqui viveram e de tantas outras que aqui ainda estão. Buscaremos identificar, na passagem do tempo, as constantes transformações na paisagem e na urbanização e em toda a sua cultura.

 

Tentaremos ampliar os horizontes geográficos das nossas crianças, buscando conhecer e estudar uma Cidade que não se restringe à nossa zona sul. Encontraremos, inevitavelmente, com as desigualdades, os medos e as injustiças. Mas conviveremos com a beleza dos contornos de sua exuberante paisagem e com a rica produção cultural de nosso povo.

 

Conhecer e ocupar a Cidade em que se vive pode ser um passo para a construção da cidadania, do sentimento de pertencimento e do compromisso com o futuro de todos.

 

Enquanto o povo da Cidade dormia

O lixo, a pobreza, a violência cresciam.

A Cidade gritava socorro!

E ninguém ouvia.

Mas nessa noite acho que um vento bom,

bateu no coração do povo da Cidade.

Corações quentes, corações tristes,

Apaixonados, corações frios.

Um vento bom que assim dizia:

Vamos mudar o Rio!

 

2006

A Casa

 

Mais uma vez o desafio de buscar o tema para o Projeto Institucional de nossa escola. Analisamos as sugestões enviadas pelas famílias, conversamos sobre as abordagens possíveis, nas últimas reuniões de pais e de planejamento de professores, pensando sobre o que seria mais adequado, hoje, como foco das pesquisas e estudos para o próximo ano. Algumas propostas apontavam para a necessidade de transformação de nossas atitudes, na busca de uma ação mais participativa e comprometida com o espaço coletivo e com as relações em que cada um de nós está inserido.

 

Escolhemos A Casa como tema por acreditarmos que poderá acolher grande parte das sugestões que apareceram em nossas discussões. Trataremos A Casa como categoria dinâmica e simbólica que poderá ser abordada de diferentes maneiras, significados e dimensões.

 

Desde A Casa como nosso corpo, nosso lar, até A Casa como planeta, biosfera que nos acolhe, não só à humanidade, mas a todos os seres que já viveram, que vivem e que viverão, num futuro que é nossa responsabilidade preservar como possível.

 

Tudo nos inspira, nos convida, mas o que iremos privilegiar é a idéia dA Casa como construção erguida tendo as relações sociais como alicerce. A Casa entendida não a- penas como um espaço físico, mas como uma esfera de ação social, de posicionamentos éticos, de expressões culturais, de divisão de trabalho. Espaço, não somente de direitos, mas de deveres com os outros que o compartilham conosco. Utilizando uma lógica que permita englobar os elementos de nosso contexto social a um todo significativo, o corpo, o lar, a rua, a cidade, o país, a nação, o continente, o planeta, poderão ser contextos privilegiados na pesquisa sobre as diferentes “casas” que podemos habitar. Vamos escutar, atentamente, os interesses de nossas crianças para escolhermos, juntos, o caminho de cada turma. Está lançada a idéia. Agora é ouvir o que elas têm a dizer, procurar caminhos para que se sintam motivadas, curiosas e desejosas de crescer nessa aprendizagem.

 

2007

As Américas

 

Ano de realização dos XV Jogos Pan-americanos no Rio. A Cidade estará voltada para o evento. Uma movimentação diferente nas ruas. Acreditamos que o assunto preencherá as conversas, ocupará a mídia, invadirá a escola.

 

Cabe a nós acolher a curiosidade das crianças e ampliar o olhar sobre as Américas, trazendo outras tantas abordagens e relações além das esportivas.

 

Investigaremos a diversidade continental e refletiremos sobre o conceito de identidade, levando as crianças à descoberta de que somos brasileiros, mas somos também americanos.

 

Nossa vocação de povo hospitaleiro nos convida a conhecer um pouco mais sobre a história e a cultura dos povos vizinhos e a explorar o continente também em seus aspectos políticos, geográficos, sociais, além de pensar nossa responsabilidade sobre a preservação dos recursos naturais.

 

Debruçar sobre As Américas será nosso compromisso para 2007.

 

2008

Aventura do Trabalho

 

A escolha e a definição do Projeto Institucional é um processo cooperativo que, na história de nossa escola, tem movido e envolvido pais e professores na busca de um assunto de pesquisa que possa, além de instigar a curiosidade de nossas crianças, contextualizar e favorecer aprendizagens significativas nas diversas áreas do conhecimento.

 

O que nossos pais fazem depois que nos deixam na escola? Por que ficam tanto tempo fora de casa? Nós crianças também podemos trabalhar? Quem trabalha para nossa casa, escola, cidade, país funcionar? Quantas pessoas estão envolvidas com a nossa provisão e proteção? E o que aconteceria se algumas deixassem de trabalhar? Trabalhar pode ser divertido? O que é trabalho?

 

Acreditamos que essas entre outras questões possam já povoar ou vir a mobilizar o pensamento de nossas crianças, dando-lhes a oportunidade de formular novas perguntas, imaginar respostas, manifestar opiniões próprias, buscar informações confrontando diferentes idéias e estabelecendo relações entre o modo de vida característico do próprio grupo social e o de diferentes grupos, em diferentes culturas e tempos históricos.

 

Percorrer a história do trabalho poderá suscitar diferentes abordagens em relação às modalidades de trabalho, à divisão de tarefas, à organização do grupo familiar, à formação econômico social e às formas de relacionamento com a natureza. Ao perceberem o trabalho como a relação dos seres humanos com a natureza e entre si, na produção de sua existência, poderão compreender que pelo trabalho, não consumimos ou nos apropriamos diretamente da natureza, mas podemos transformá-la em algo também humano. Poderão ainda ampliar a capacidade de observar o seu entorno, valorizando o trabalho como expressão, realização e conquista do ser humano. Conquistas explicitadas, também, pelas transformações tecnológicas que alteraram nosso modo de viver, nos relacionar, pensar e sonhar.

 

Tentaremos aproximar as crianças do significado social do trabalho, relacionando-o às diferentes ações humanas, às profissões, aos profissionais, à organização das diversas sociedades e culturas.

 

Para alcançarmos essas metas precisaremos contar com um diálogo permanente com as famílias e com as diversas instâncias da sociedade para termos uma melhor compreensão sobre a importância do trabalho de cada um para a conquista de uma maior qualidade da vida humana em coletividade.

 

2009

Quanto tempo o tempo tem?

 

“Quando eu crescer… vou inventar uma mochila a jato. E ela vai ter uma calculadorinha que a gente escreve “Escola Sá Pereira”. Aí a gente vai tão rápido, tão rápido que até a gente não vê.”; “Às vezes o trabalho demora para as pessoas chegarem em casa”; “Memórias do Rio? Não é só pessoa que tem memória, não??!!”; “Quando foi que o mundo deixou de ser preto e branco e passou a ser colorido?”; “Quem será que veio primeiro, o vô, Deus ou o dinossauro?”; “O príncipe já tinha nascido quando a Bela Adormecida espetou o dedo?”;”As coisas param quando a gente dorme e só voltam a funcionar quando fica de dia, de novo? Dentro da gente o coração pára de bater, a cabeça pára de pensar, o sangue pára de ir para lá e para cá e o estômago pára de amassar a comida?”

 

Não são apenas os físicos, filósofos, historiadores, matemáticos que refletem sobre o tempo, a história e a memória. Nossas crianças, também, se intrigam com os seus mistérios, articulam hipóteses e teorias que nos mostram sua forma peculiar de ver o mundo.

 

Indagações e afirmações como essas nos trazem inspiração para abordarmos o assunto que escolhemos como Projeto Institucional de 2009. O tempo, um dos temas sugeridos nas últimas reuniões de avaliação e planejamento, a princípio nos assusta pela amplitude; mas também nos instiga pelo quanto traz de possibilidades de desdobramentos nas diversas áreas do conhecimento e disciplinas escolares. Para os estudiosos que se dedicam a compreendê-lo, existe uma enorme abrangência, relacionada aos contornos que possam ser assumidos, tanto no campo da realidade natural e física como nas criações culturais humanas. Dependendo do ponto de vista, o tempo pode abarcar muitas concepções.

 

O tempo é, antes de tudo, um símbolo construído ao longo da história humana. É resultado de um longo processo de aprendizagem. Aprendemos a perceber o tempo a partir das experiências vividas. Desde muito cedo, nossa vida é organizada pelo outro, que nos provê e protege, a partir de uma concepção temporal. Esse processo de aprendizagem vai se dando de forma gradativa, sem que tenhamos consciência de sua apropriação. O tempo está tão integrado à vida que sequer sabemos como apreendemos suas marcações.

 

Provavelmente a noção de tempo nasceu da necessidade de conhecer e controlar os ciclos da natureza. Mas cada época, grupo, cultura, civilização teve ou tem formas próprias de compreendê-lo, vivenciá-lo e expressá-lo.

 

Refletir sobre o tempo é pensar sobre si, se conhecer melhor, compreender seu grupo, sua família, seu país, a humanidade, a natureza, que nos protege e ameaça, e as transformações que nela provocamos. É construir sua história, sua memória, mas também flexibilizar todos esses aspectos à medida em que se entra em contato com outras concepções diferentes.

 

Uma variedade de experiências de vida será necessária para que as crianças possam ir construindo a concepção de tempo. Nesse sentido, a escola poderá favorecer o processo procurando desenvolver atividades didáticas que envolvam diferentes perspectivas de tempo, tratando-o como um elemento que possibilita organizar os acontecimentos no presente e no passado; estudar suas medições e calendários em diferentes culturas; distinguir periodicidades, mudanças e permanências nos hábitos e costumes de sociedades; relacionar um acontecimento com outros acontecimentos de tempos distintos; identificar as atividades das pessoas e de grupos a partir de predominância de ritmos que mantêm relações com os padrões culturais, sociais, econômicos e políticos; observar as repetições dos fenômenos naturais, transformações na paisagem, nos seres vivos e materiais.

 

Esperamos, colocando o foco de atenção no tema, criar alicerces fortes para que as crianças construam conhecimentos nessas diferentes dimensões e direções para as quais o tempo aponta.

 

“Que é pois o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.”

 

Santo Agostinho, Confissões, Livro XI, 14 (17)



2010

AS CIDADES

Das Aldeias às Grandes Metrópoles

 

Como as crianças vêem a sua cidade? Por que, hoje, existem mais pessoas nas cidades que no campo? Como surgiram as primeiras cidades? Como serão as cidades no futuro? Quais as vantagens e os problemas da urbanização crescente? Como tanta gente diferente pode conviver em uma mesma cidade? Quantas formas diferentes de viver se pode conhecer em uma cidade? Qual a sua naturalidade? O que é ser cidadão? Como nossas escolhas e decisões políticas podem interferir na construção da história e do espaço geográfico, na modificação do meio ambiente, nas relações de trabalho e afeto? Essas não seriam perguntas instigadoras para nossas crianças?

Sintetizar as tantas sugestões para o tema do Projeto 2010 não foi tarefa fácil. Depois de muitas discussões chegamos à ideia de que a cidade é o ponto onde deságuam nossas angústias e incertezas, dúvidas e esperanças. Buscando se organizar e organizar seus saberes e haveres, o homem foi se concentrando, para o bem e para o mal, nisso que chamamos cidades. Não existe nela nada que não tenha sempre existido no coração do homem, a não ser seus tamanhos, às vezes descomunais. Nelas imperam, como nos corações dos homens, o bem e o mal. Nelas afloram nossas virtudes e nossos vícios, principalmente os de opressão.

 

Observar criticamente as cidades, as nossas cidades, a nossa cidade, pode ser uma forma de conhecer o mundo e a nós mesmos. Pode ser uma forma de aprender como abrir espaço para os sonhos dos outros sem que com isso seja preciso abrir mão de seu próprio sonho. E tentar descobrir como a ordem poderia ser construída mais na busca de consensos que por imposições de autoridades.

 

Tentar buscar formas de participar de um processo de transformação de cidades que têm donos para donos de nossas cidades. E buscar, na história de nossa espécie, o quanto essa busca de estar juntos é apenas uma necessidade de proteção e produção, e o quanto ela vem da nossa necessidade de criação.

Olhar, através da história, como o processo de urbanização tem caminhado nas suas idas e vindas de acolhimento – opressão – acolhimento. Como caminha, nos seus desvãos, entre o serviço ao poder e o serviço às pessoas que as habitam. Analisar os processos de transformação que foram praticados nos levando quase ao esgotamento dos recursos naturais e buscar soluções mais sustentáveis, urgentes e necessárias para o bem estar de todos.

 

Como entender a diversidade de serviços que perpassam a nossa vida e como se organizam, formando um organismo que quase poderia ser chamado de vivo.

 

E quem sou eu diante desse ser que me chama cidadão. Eu, um indivíduo único, um elemento, designado pelo aumentativo do conjunto, do todo, do coletivo nós.

 

Acreditamos que o tema apontará para uma multiplicidade de abordagens e uma ampla abrangência de estudo, pesquisa e vivência. Estão aí, apenas, alguns dos caminhos possíveis para nossos alunos, professores e também para vocês pais, nossos parceiros nessa aventura.