Projetos de Anos Anteriores: 2011 - 2020

2021

A Casa

Todos os anos, “procurando garantir o envolvimento e a participação de todos os membros da comunidade escolar, através de diferentes estratégias e instrumentos de sondagem, escolhemos um tema, bastante amplo, que possa atender ao maior número de anseios e desejos, para ser o universo de pesquisa na Instituição. A esse recorte chamamos Projeto Institucional”.

Ao final deste ano marcado por  uma pandemia e muitas limitações, nosso Projeto Institucional pareceu ter antevisto discussões tão necessárias e pungentes: Urgente! Cuidar da Terra é cuidar da gente. Ao nos debruçarmos sobre as diversas sugestões para 2021, enviadas pelos responsáveis nos questionários de avaliação e no diálogo travado nas assembleias, percebemos que havia quem defendesse a manutenção do tema, dizendo: “Não  vemos tema mais relevante do que a questão ambiental e os resultados da ação humana na Terra.” Mas também quem achasse que “é importante virar a página e renovar. Um novo tema pode trazer maior motivação…Novo ano, novas energias e novos trabalhos podem suscitar mais curiosidade”.

Como revisitar o tema de 2020 a partir de nova abordagem, que evite os perigos apontados pela repetição ou falta de novidade? Fomos pesquisar nossa história, os Projetos já trabalhados. Encontramos um que acreditamos ser capaz de atender à tendência de permanência para maior exploração e também a de mudança, trazendo frescor e motivação.

Escolhemos reeditar A Casa, tema de 2006, pela lembrança de sucesso do trabalho realizado e por acreditarmos que poderá acolher grande parte das sugestões que apareceram em nossas discussões.

A palavra ecologia é formada pelo prefixo eco-, procedente do grego oiko-, que significa casa, e pelo sufixo grego -logía, que se associa ao vocábulo logos, em referência ao raciocínio, à ciência e ao estudo. Então, podemos considerar que a origem da palavra está ligada ao estudo da casa.

Trataremos novamente A Casa como categoria dinâmica e simbólica, que poderá ser abordada de diferentes maneiras, significados e dimensões. Desde o nosso corpo, como nossa primeira casa, com seus aspectos biológicos e emocionais, como nosso lar, cidade ou país, até A Casa como planeta, biosfera que nos acolhe, não só à humanidade, mas a todos os seres que já viveram, que vivem e que viverão, num futuro que é nossa responsabilidade preservar.

Neste tempo em que somos obrigados a restringir nosso espaço e nos isolar em casa, vamos ampliar esse conceito, buscando refletir sobre tudo que nos abriga e protege, sobre como cuidar dessas diferentes casas, como cuidar de nós e dos outros seres vivos que compartilham conosco essas diferentes moradas. Mas também pensar o que pode nos ameaçar se não soubermos cuidar e preservar a natureza.

O que precisamos mudar em nossas atitudes para preservar a vida? 

Queremos buscar os alicerces da construção dessa Casa nas relações sociais. A Casa entendida não apenas como espaço físico, mas como esfera de ação social, de posicionamentos éticos, políticos, de expressões culturais. Na diversidade das interações humanas, valorizar o respeito, o diálogo, a escuta ativa, a empatia, a colaboração e a cooperação como atitudes positivas para se construir uma Casa para todos. Nas relações familiares, comunitárias e entre povos, identificar formas de garantir a democracia, o desenvolvimento econômico e sustentável, a erradicação da pobreza e a paz mundial, os direitos humanos e os direitos da Terra. Refletir sobre as desigualdades, a diversidade, os preconceitos. Enxergar essa Casa como espaço não somente de direitos, mas de deveres com aqueles que o compartilham conosco. Utilizando uma lógica que permita englobar os elementos de nosso contexto social em um todo significativo.

Caminharemos em busca de utopias e sonhos. Precisamos imaginar formas de melhorar o mundo! Reconhecer a capacidade inventiva da humanidade – na ciência, na  tecnologia, nas artes – como recurso a serviço de uma construção acolhedora para todos, não apenas para alguns.

O corpo, o lar, a rua, a cidade, o país, a nação, o continente, o planeta poderão ser contextos privilegiados na pesquisa sobre as diferentes “casas” que podemos habitar. Vamos escutar atentamente os interesses de nossas crianças e adolescentes para escolhermos, juntos, o caminho de cada turma.

Está lançada a ideia. Agora é ouvir o que eles têm a nos dizer, procurar caminhos que os levem a sentir-se motivados, curiosos e desejosos de crescer nessa aprendizagem.

 


2022

Tec aqui, tec lá. O que mais podemos inventar?

“O pensamento é nuvem,
O movimento é drone.”
Gilberto Gil

 

Desde pequenos somos movidos pela curiosidade a desvendar os mistérios da vida. É através da experimentação que exploramos o mundo, vamos construindo hipóteses e expressando nossa capacidade criativa na busca de soluções para os desafios do dia a dia.
Nesse caminho, podemos pensar: que necessidades ou motivações deflagraram a criação de objetos, ideias e conceitos? Quem os criou? Para quem? Quando? O que podemos aprender através da nossa relação com o ambiente?

“A tecnologia está cada vez mais presente em nossas vidas, e precisamos aprender a nos situar, compreender o que ela é, quais são as diversas maneiras de usá-la, tanto positiva quanto negativamente. É importante estudá-la e entendê-la a partir de seus marcos históricos, como a revolução industrial, e projetar avanços futuros.” Assim argumentou um dos grupos de nossos alunos.

Sabemos que o desenvolvimento tecnológico, impulsionado pelas revoluções industriais, causou profundas transformações no modo de vida, de produção, nas relações de trabalho, nos padrões de consumo, alterou a relação do homem com a natureza, trouxe avanços nos diversos campos do conhecimento social, científico, econômico, e provocou inúmeras mudanças.

O historiador Yuval Noah Harari descreve três grandes revoluções, na história do Homo sapiens, que elevaram nossa espécie ao topo da cadeia alimentar. A cognitiva, a agrícola e a científica. Comum às três, a série de novas tecnologias, descobertas pela humanidade, que transformaram sua forma de intervir no mundo, dominar as outras espécies e a natureza, no pior sentido da palavra antropocentrismo.

Hoje, vivemos uma revolução técnico-científico-informacional. As religiões, a indústria, a ciência, a educação, entre outros campos da atividade humana, estão utilizando, intensamente, as redes de comunicação, a computação… Diante dessa realidade, a humanidade tem grandes desafios políticos, econômicos, sociais e éticos.

A arte tecnológica também assume essa relação direta com a vida, gerando produções que levam o homem a repensar a própria condição. A ficção científica e seus autores tentaram prever o futuro e seu impacto sobre a civilização. Artistas visionários e profissionais de tecnologia se alimentaram das mesmas fontes para produzir. Podemos constatar que, ao mesmo tempo em que equipamentos multimídia, códigos de programação e objetos eletrônicos vão ganhando status de obras de arte, projetos de arte digital interativos e envolventes se confundem com obras tecnológicas. Assim, arte e tecnologia vêm permitindo às pessoas expressarem sentimentos, pensamentos e crenças mais profundas, gerando novas formas de entender o mundo, agir e, quem sabe, transformá-lo.

A tecnologia tem revolucionado a Medicina, aumentando nossa expectativa de vida e vencendo batalhas contra muitas doenças. No entanto, ainda enfrentamos desafios importantes, como o de distribuir e compartilhar as vacinas anticovid com todo o mundo. E, mais uma vez: quais são os dilemas éticos e morais que vivemos no progresso dessa ciência?

A Matemática, como campo de conhecimento, tem desenvolvido possibilidades e provocado impactos antes inimagináveis, como a inteligência artificial e a presença dos algoritmos em nossas vidas. Nossa liberdade de pensamento está correndo risco, ao ser influenciada por esses fatores? Como eles interferem na construção de nossos valores e visão de mundo? O que as diferentes mídias nos induzem a consumir?

A incorporação de novas tecnologias na agricultura altera as relações de trabalho. Aumenta a produção, mas pode apresentar-se ora como vilã, ora como possibilidade de se obter um mundo mais justo e, talvez, mais sustentável. Energias alternativas são esperança de uma relação mais amigável com o meio ambiente.

O progresso tecnológico e a automação apontam também para o desemprego, e trazem o desafio de desenvolver novas habilidades profissionais, novas formas de provimento da subsistência, que possam atender às demandas dessa nova realidade. Quais serão as profissões e as ocupações do futuro?

A exacerbação do consumo, a assimilação de um mundo cada vez mais virtual, a supervalorização das redes sociais, o isolamento social, enfim, uma série de novos comportamentos tem colocado grande parte da sociedade em uma espécie de crise coletiva e interferido nas relações humanas. Como nos aponta Zygmunt Bauman, com o conceito de modernidade líquida, nem todas as pessoas conseguem conviver com incertezas e mudanças constantes, em ritmo cada vez mais acelerado, o que tem gerado problemas e desafios. Será preciso, cada vez mais, educar para um pensamento flexível e para a adequação a essa sociedade em constante transformação. Sem um olhar crítico para o novo mundo, não poderemos superar essa crise.

Por fim, ficam muitas perguntas a serem respondidas. O que é tecnologia? O que é artefato? O que é analógico e o que é digital? E pós-digital? Aonde as tecnologias digitais têm nos levado? O que desejamos para o futuro, e como as novas tecnologias têm projetado e influenciado nossas vidas?

Nesse contexto de tantas indagações e reflexões é preciso encontrar caminhos de encantamento, experimentação e descoberta, para esperançarmos.

Buscaremos valorizar as relações humanas, a criatividade e a sustentabilidade dentro da realidade tecnológica.